quinta-feira, 24 de abril de 2014

"Eu, Mamãe e os Meninos", o filme

A pedido do amigo Hermann Byron, dei meus pitacos sobre cinema para o Jornal Imagem da Ilha. É uma brincadeira séria, com impressões de quem, como você, não é um crítico profissional e nem tem a pretensão de ser, mas gosta do assunto e pode emitir uma opinião sobre. Falei sobre o filme "Eu, Mamãe e os Meninos", já assistiu? Confira abaixo ou na página do jornal www.imagemdailha.com.br

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Hoje é Dia do Malbec!


Foi num 17 de abril, mas de 1853, que um engenheiro agrônomo francês - Michel Aime Pouget -  plantou as primeiras mudas de Malbec em Mendoza. Desde então, o Malbec é a uva símbolo da Argentina, com vinhos consagrados, e a região de Mendoza, referência mundial em vitivinicultura. O que pouca gente sabe é que esse tipo de uva teve origem na França, mais precisamente na região de Cahors, ao sudoeste do País. Os primeiros vinhedos de Malbec francês foram criados ainda pelos romanos, e viveram seu auge e glória durante a Idade Média. Hoje essa irmã mais velha perdeu espaço para Mendoza, a mais nova. 

Bem, se faltava motivo para abrir um Malbec hoje e comemorar, faça um brinde a Michel Aime Pouget e delicie-se com essa bebida de um rubi púrpura inigualável.

Champagne para ler, visitar e degustar



Quem visita a região de Champagne, no nordeste da França, não imagina que por trás daquela paisagem bucólica que abriga seculares vinhedos, sofisticadas caves, berço das marcas mais luxuosas e tradicionais do mundo, discorreu um cenário de guerras sanguinárias e violentas invasões. Para se chegar ao glamour de hoje, viveu-se séculos de terror. Esse passado marcado por tantas conflagrações e tragédias é desvendado com maestria no livro "Champagne", escrito por um casal de jornalistas americanos - Don e Petie Kladstrup - apaixonados pela França e por seus vinhos.

Livro que inebria do início ao fim

Comprei esse livro pouco antes da minha viagem à região, no final de março. A ideia era entender mais o que eu veria ali, ao vivo, e as histórias por trás de cada gole degustado. Me apaixonei. Li antes, li durante a viagem, e estou relendo agora depois de visitar todos os palcos relatados com tanta emoção no livro. Minha dica é: faça o mesmo se puder, porque com história o sabor é outro.
Cada crayére que você visitar ou cada vez que você atravessar o Marne terá como referência as passagens incríveis do livro que relatam não só banhos de sangue, como também costumes da época, a forma como as pessoas viviam e se relacionavam nas comunidades, as muitas dificuldades que tiveram para fazer do champagne o vinho mais glamouroso e sofisticado do mundo.


A linguagem inebriante te convida a visitar um outro tempo. As informações são detalhadas, precisas, extratos de diálogos impensáveis. Napoleão, Luis XIV, Átila e outros grandes personagens da história da humanidade tem sua ligação forte com essa região rica e vocacionada. E bebiam muito. Fatos pitorescos também são narrados, como a predileção que o Chanceler de Ferro alemão Otto Von Bismarck tinha por essa bebida, que o ajudava a “livrá-lo dos ventos”, vítima que era de flatulência crônica. Há ainda acontecimentos curiosos da vida mundana envolvendo o champanhe ou as aventuras do ousado e inteligente Charles-Camille Heidsick.



O livro também descreve passagens apaixonantes dos grandes visionários e empreendedores da região como Nicole-Barbe, a viúva Clicquot; Jean Pierre Moët, da Moët&Chandon; Don Pérignon; Louise Pommery, a madame Pomery; e muitos outros ícones dos tempos de guerra e perlage.

Um livro para ser lido e degustado, interpretado in loco. Todo gole de champagne, daqui pra frente, terá para mim um outro sabor.



“Lembrem-se cavalheiros, não é só pela França que estamos lutando, é pela Champagne também.”
Discurso de Winston Churchill durante a Segunda Grande Guerra

Livro: Champagne: Como o mais sofisticado dos vinhos venceu a guerra e os tempos difíceis
Autores: Don e Petie Kladstrup
Editora: Zahar
Preço: + ou - R$ 50,00






quinta-feira, 10 de abril de 2014

A boa da salada

Muita gente torce o nariz para salada. E se isso acontece, me desculpem, mas está faltando criatividade. Salada não precisa ser aquela coisa verde gelada e molhada, com alguns tomates mal cortados cheirando a vinagre. Não! Para mim, salada tem que ser um mix de aromas, de cores e de texturas. É preciso brincar com ingredientes que te deem um azedinho e aí você combina com um adocicado. Coloca uma folha tenra junto de um castanha crocante. Pode ainda brincar com o quente e o frio regando ingredientes frescos e em temperatura ambiente com um molho quentinho. Por isso adorei esse livro "Salad of the Day", minha última aquisição na Williams-Sonoma de NY. Ele traz 365 receitas incríveis, uma para cada dia do ano, todas factíveis e com ingredientes possíveis - porque não tem nada pior que livro de receita importado que fala de processos e alimentos que você não faz a mínima ideia do que se trata.

Para deixar um gostinho, vou burlar a lei do direito autoral americano e reproduzir aqui uma receita legal, que inclusive é a planejada para o dia de hoje, 10 de abril.


SALADA DE LULA E FEIJÃO BRANCO
(serve 4 pessoas)

Sal e pimenta moída na hora
60ml de vinagre de vinho branco
3 colheres de sopa de suco de limão
1 colher de sopa de alho picado
125ml de azeite de oliva
500g de lula limpa, cortada em rodelas e tentáculos
470g de feijão branco cozido e escorrido
2 pimentões vermelhos tostados e cortados em tiras
125g de cebola roxa cortada finamente
2 colheres de sopa de alcaparras
60g de azeitonas verdes sem caroço e fatiadas
salsinha fresca para enfeitar

Numa panela grande, coloque 4 litros de água com sal para ferver. Deixe reservado uma tigela com água gelada.
Numa outra tigela, misture o vinagre, o suco de limáo, o alho, sal e pimenta e deixe marinar por 5 minutos. Adicione óleo de oliva aos poucos, misturando constantemente até que o molho emulsione.
Coloque a lula na panela com água fervendo e cozinhe até ficar ao dente. Isso vai levar aproximadamente 1 minuto. Escorra a lula e coloque imediatamente na água gelada para cortar o cozimento. Depois seque todas as rodelas e tentáculos. Reserve.
Incorpore a lula, os feijões, o pimentão, a cebola, as alcaparras, as azeitonas ao molho e misture muito bem. Tampe e refrigere por pelo menos 30 minutos.
Antes de servir, corrija o sal e demais temperos. Divida em pratos individuais e enfeite com as folhas de salsinha e sirva.

Bom apetite!






Veramente bello!

Ironia e inteligência ácida enriquecem a personalidade de Jep













Fui assistir ao "La Grande Bellezza", de Paolo Sorrentino, drama italiano que ganhou o Oscar como melhor filme estrangeiro. E gostei muito do que vi. Não sei se porque fui sem ter criado expectativas e desarmada de qualquer crítica que havia lido, mas a verdade é que o filme me fez bem. Adorei passear com o movimento da câmera por paisagens de tirar o fôlego, a plasticidade toda é estarrecedora. Deu vontade de voltar a Roma. Também gostei muito do humor irônico e ácido de Jep Gambardella, escritor de um livro só e que ao completar 65 anos já não tem papas na língua ao mesmo tempo em que vive o dissabor da decadência. O excelente ator Toni Sevillo me rendeu risadas extra roteiro. Isso porque ele é muito parecido, no humor e na fisionomia com um grande amigo italiano, o Mimo Domenico Calabria. Há passagens engraçadíssimas no filme quando se revela uma alta sociedade de Roma brega e pseudo-intelectual. Destaque também para a riqueza do texto, que tem como coadjuvante citações de Dostoiévski, Breton e Flaubert, entre outros autores universais. Trilha sonora envolvente, vai de belos cantos gregorianos a baladas com Pa Panamericano. Ponto negativo? Sim. Muito longo. São 142 minutos de rara beleza e acidez, mas que poderiam ser 80, 100, 110 estourando, e sem perder qualquer conteúdo relevante.
Jep Gambardella - o nosso amigo Mimo - tem uma cobertura de frente para o Coliseu. Chato, né?



terça-feira, 8 de abril de 2014

Doce de leite de família



Consistência e sabor num doce único
Dizem que argentinos e mineiros brigam até os dias de hoje pela patente do doce de leite. O que eu faço em casa tem raiz gaúcha e é pra lá de bom. A receita é de família, mas transmitida ao longo das gerações de forma, digamos assim, meio enviesada. Na verdade, recebi a atribuição de manter a receita na família Bitencourt da minha sogra (Eli, Porto Alegre/RS), que por sua vez  já tinha recebido a incumbência da sogra dela (Nair, Jaguari/RS). Ou seja, uma receita de família, não de mãe para filha, mas de sogra para nora.



O doce, em seis tempos de preparo, com 30 min em cada etapa
Caminhos tortos à parte, o doce é muito bom e a receita muitíssimo simples. Você vai precisar de uma boa panela, alta e larga, feita de alumínio ou ferro bem grosso. Antes de ligar o fogo - e essa parte é bem importante - coloque 4 litros de leite e 1 kg de açúcar e mexa muito bem. De 3 a 5 minutos, até que o açúcar esteja totalmente dissolvido. Esse é o segredo. Coloque o panelão em fogo baixo e deixe uma escumadeira de metal dentro dele para evitar que o leite suba e vaze no seu fogão. Esqueça-o por umas duas horas aproximadamente (sim, você leu direito, não precisa ficar mexendo o tempo todo como a Tia Anastácia fazia). Somente na última meia hora, peque uma colher de pau, daquelas com a base reta (tipo raspa-tudo) e mexa o doce lentamente, sempre tocando o fundo da panela. Essa mexida final é que vai dar um brilho ao doce e deixá-lo mais caramelado e homogêneo. Desligue o fogo e coloque o doce de leite num refratário transparente. Por fim, avise a turma que é preciso esperar esfriar para aproveitar ao máximo todo o sabor e consistência desse doce único. Nem sempre te obedecem, que o diga meu marido Róger Bitencourt para quem faço esse doce praticamente toda semana. Última dica: leiloe a panela porque raspá-la é para os privilegiados.