terça-feira, 14 de julho de 2015

Descubra seu lado selvagem

Essa é a promessa do filme argentino “Relatos Selvagens”, já assistido por mais de 4 milhões de pessoas e que chega a Florianópolis neste mês, no Paradigma Cine Arte. E não duvide de que ele seja capaz disso.





São seis histórias. Imperdíveis, todas sensacionais. As que destoam, são espetaculares. Nenhuma delas é muito real, mas parece que o diretor e roteirista Damián Szifron não queria mesmo que fossem plausíveis. Elas exploram o limite do absurdo, e é exatamente o contraste entre a comédia e a tragédia que faz o filme funcionar tão bem. Outro ponto de nocaute é que é praticamente impossível você não se identificar com pelo menos um dos personagens e, de quebra, entrar na nóia do “E se eu...” completando a frase com algo selvagem, digamos, terrivelmente selvagem.




Ricardo Darín, expressão máxima do cinema argentino, é o capitão de um elenco de peso




















Erica Rivas, impagável no papel da noiva traída por Diego Gentile
Os protagonistas fora de controle que decidem fazer justiça com as próprias mãos nos seis pequenos episódios independentes do filme revelam um humor sofisticado e inteligente. Mostram também que qualquer um de nós pode, a qualquer momento e por qualquer motivo, surtar e assim mudar violentamente o rumo das coisas. É essa linha tênue que separa a civilização da barbárie, o conformismo da selvageria, a base do filme de Szifron.


Leonardo Sbaraglia esbanja beleza e fúria num dos melhores episódios do longa
O elenco reúne atores de talento e totalmente identificados com a proposta do filme. O premiado Ricardo Darín, praticamente uma instituição do cinema argentino, está esplêndido na interpretação de um engenheiro que trabalha numa empresa de implosões de edifícios, pai de família ausente, e que sofre as agruras da burocracia governamental argentina. Já Érica Riva, que faz a noiva que descobre na festa do seu casamento a amante do marido entre os convidados e resolve se vingar ali mesmo, tem um desempenho contagiante. Ela transpõe a sua loucura e contamina os espectadores com um desequilibrado e não menos pertinente questionamento sobre família, fidelidade, instituições e tudo o mais. Mas, perfeita e hilária é mesmo a atriz Rita Cortese, que interpreta a cozinheira de uma lanchonete decadente de beira de estrada. Com um humor negro incrível, ela mostra claramente que não tem muita paciência para certos clientes e algumas injustiças.


O tom tragicômico do filme explica em parte seu grande sucesso. Isso porque, apesar de divertido, muito divertido aliás, ele não deixa de discutir questões contemporâneas e urbanas como a intolerância e a injustiça social. Ou seja, é uma comédia com essência. Coisa que no nosso cinema nacional é cada vez mais raro encontrar.


O diretor argentino Damián Szifron, agora internacional e merecidamente consagrado, deixa cinéfilos na expectativa do seu próximo trabalho

Damián Szifron até então era um diretor que transitava muito bem na tv argentina, mas pouco emplacava nas telonas. Agora, depois de ver sua obra indicada ao Oscar, conquistar o exigente público de Cannes e cair nas graças dos irmãos Almodóvar que produziram este longa, Szifron consagra-se internacionalmente como diretor e roteirista. Sua câmera, passeadeira e maliciosa, evidencia o que é necessário e apenas sugere o que não pode ser revelado. Seu roteiro é impecável, bem escrito, com as pausas corretas. Melhor não poderia ser. Texto, interpretação, trilha sonora, cinematografia, tudo perfeito em Relatos Selvagens. Viva Damián Szifron! Vida longa a Ricardo Darín e ao cinema argentino!


PRA FACILITAR:


O que assistir: Relatos Selvagens (2014)

Quando: de 16 a 29 de julho de 2015

Onde: no Paradigma Cine Arte (SC-401, Corporate Park)

Roteiro e Direção: Damián Szifron

Elenco: Darío Grandinetti, Diego Gentile, Diego Velázquez, Erica Rivas, Julieta Zylberberg, Leonardo Sbaraglia, Liliana Ackerman, María Marull, María Onetto, Mónica Villa, Nancy Dupláa, Oscar Martínez, Osmar Núñez, Ricardo Darín, Ricardo Truppel, Rita Cortese

Produção: Agustín Almodóvar, Esther García, Hugo Sigman, Matías Mosteirín, Pedro Almodóvar

Fotografia: Javier Julia




quinta-feira, 9 de julho de 2015

Entrevero, a boa do inverno!


Que tal aproveitar o finalzinho da safra de pinhão e fazer um delicioso Entrevero?




No último domingo, inspirada por dois jornalistas e chefs que fazer muito bem essa especialidade sulina - Rosângela Rezende e Frutuoso Oliveira - resolvi me aventurar entre bons amigos em casa e fazer meu primeiro Entrevero. E acho que deu certo (pelo menos sobrou bem menos do que eu imaginava)!

Este prato, tão exaustivamente executado pelos tropeiros que vinham dos pampas gaúcho e argentino e atravessavam o planalto serrano em Santa Catarina com destino a São Paulo, tem na verdade sua origem na língua espanhola. Entrevero significa bagunça, confusão, uma mistura desordenada. E é bem isso que é o Entrevero, uma mescla deliciosa de vários ingredientes animais e vegetais, que já ganhou centenas de versões com o passar dos anos e das bagunças desordenadas de cada chef.  


Lá em casa também fiz uma versão diferente, agregando à receita original elementos da cozinha nordestina, como manteiga de garrafa e queijo coalho grelhado. Só não coloquei coentro fresco porque, entre os amigos que lá estavam, alguns não curtiam. Mas que iria harmonizar perfeitamente, ah isso ia...

Mas vamos à receita:



Ingredientes

(para aproximadamente 15 convivas bons de garfo)

2 kg de pinhão cozido, descascado e fatiado na transversal

1 kg de frescal de alcatra (usei o legítimo de São Joaquim)

1 kg de filé mignon suíno

1 kg de contra-filé

1 kg de peito de frango sassami (aquela parte interna do peito que é mais tenra)

300 gramas de bacon

500 gramas de linguiça calabresa fininha

1 pacote de queijo coalho para churrasco

1/2 garrafinha de manteiga de garrafa

4 cebolas bem grandes

6 tomates grandes

azeite

sal/pimenta

salsinha/cebolinha/coentro







Mis-en-place para facilitar

Como eu fiz

O melhor negócio é preparar um mis-en-place antes, picando todas as carnes em cubos pequenos de 1 cm ou 1,5cm, as cebolas em quadrados largos, os tomates picados grosseriamente e a linguiça em rodelinhas. O contra-filé, o filé suíno e o frango já deixo temperados. As demais carnes não precisam de tempero (bacon, linguiça calabresa e frescal).

Numa paelleira grande (60 cm de diâmetro), começo com o filé suíno que precisa cozinhar mais. Dou uma boa selada nele com azeite e adiciono os cubinhos de frango. Feito isso, separo essas duas carnes para um lado da paellera e na outra área (que deve estar com a parte principal sobre a chama do fogão), coloco o contrafilé, o bacon, o frescal e a linguiça calabresa. Assim que tomarem cor, junto tudo ao lado do suíno e do frango. Na área que sobra, frito a cebola em cubos grandes, deixando-as ainda firmes. Assim que elas ficarem transparentes, integro tudo, mexendo tudo muito bem. Aqui, é preciso uma certa força para mexer tudo com uma super colher de pau. É hora de colocar os tomates picados, o pinhão e as ervas da sua escolha. 


Misture bem e desligue o fogo. Deixe descansar. À parte, numa grelha muito quente e antiaderente, coloque o queijo coalho inteiro, sem os palitos de churrasco. Grelhe por aproximadamente 2 minutos de cada lado. Retire, corte em cubinhos e enfeite o Entrevero, adicionando mais ervas e regando com a manteiga de garrafa bem quente.

Sirva com arroz branco ou uma polenta mole com queijo, acompanhada de uma salada verde.