sábado, 24 de maio de 2014

Woody Allen e John Turturro retomam parceria em "Amante à Domicílio"

"Amante à Domicílio", a estreia dessa semana, tem a direção de John Turturro, que além de ser o protagonista, assina também o roteiro. Mas é Woody Allen quem imprime todo o seu estilo. Apesar de não dividir a direção com Turturro e de não ter contribuído para a construção da história, a volta de Allen às telonas na impagável pele de um "livreiro-cafetão" foi suficiente para dar sua cara à obra. Some-se a isso algumas peculiaridades recorrentes nos filmes que levam seu carimbo: a história se passa em Nova York e a trilha traz algumas deliciosas faixas de jazz instrumental, além de uma música em italiano na voz doce e envolvente de Vanessa Paradis (ouça aqui)







A comédia vale quanto custa: há cenas estupidamente engraçadas como quando Murray (Woody Allen), um livreiro à beira da falência, utiliza de todos os argumentos para convencer Fioravante (John Turturro), funcionário de uma floricultura em NY, de que ele é sexy e que deveria aceitar a proposta de tornar-se um amante à domicílio. E aí se arma a coisa toda: Fioravante, que não é do ramo, não é um homem bonito e é pobre, será agenciado por Murray, um intelectual igualmente pobre e falido, para transar com a sensualíssima e inteiraça Sharon Stone, a doutora Parker. E eles ainda vão ganhar muito dinheiro por isso. Tudo começa quando a médica dermatologista de Murray pede a indicação de um amante a domicílio para poder trair o marido, um esportista que viaja muito e não lhe dá atenção, e também para depois fazer um mènage a trois com sua melhor amiga, mais nova, sexy e milionária que ela, vivida por Sofia Vergara.


Os negócios aumentam, Fioravante passa a atender várias clientes, até que entra em cena a viúva judia Avigal, na pele de Vanessa Paradis (a mesma que canta o jazz italiano marcante da trilha). E a partir desse novo componente, evidencia-se mais uma obstinação de Allen, a crítica nem sempre sutil à sua própria origem, a comunidade judaica. Num tribunal de judeus ortodoxos é mostrada toda a opressão da mulher em uma cultura altamente machista. Em outra ponta, mostra-se toda a solidão, a falta de carinho e de atenção das mulheres que buscam o amante profissional. Mas em algum momento, o filme perde a força. Não perde a graça e nem o talento da dupla enfraquece, mas a história que começa com um argumento forte parece não se desenvolver com a grandeza anunciada. O que fica ao final, além da boa trilha e das risadas frouxas, é a certeza de que todos nós, homens ou mulheres, precisamos de contato e de carinho.
Assista aqui ao trailler de "Amante à Domicílio"



sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ora, ovas!

Os caviares mais luxuosos do mundo que me perdoem, mas ova de tainha é fundamental! Fresca e assada no forno, frita, na brasa e até defumada - a chamada bottarga - é a mais pura essência da base da comida de inverno dos manezinhos da Ilha. Bate aquele ventinho sul no final de maio e o povo de Floripa já começa a sonhar com as tainhas que trarão as ovas mais desejadas do planeta. Hoje, estamos num dia assim por aqui. A temperatura em queda, o dia cinza, os pescadores com suas redes no plantão só aguardando o sinal dos olheiros em cima dos morros que avisam quando os cardumes se aproximam da costa. E quando a rede entra em ação, o povo enche a praia suportando com alegria o vento gelado e a gritaria festiva das gaivotas que prevêem o banquete de logo mais. E todos ficam ali aguardando e, no caso de necessidade, ajudando a puxar a rede com o tesouro capturado. Quem não tem esse privilégio, vai à peixaria no dia seguinte e se dá bem do mesmo jeito. É o meu caso.

Mas, vamos ao que interessa, três formas de fazer ovas de tainha em casa, você mesmo, sem requerer prática nem tampouco habilidade:

Assada no forno, não tem?
Pegue uma gorda ova dupla (eu disse dupla? sim, todas são. Mas a primeira vez que a tirei de dentro de uma tainha, a paulistana aqui achou que tinha sido sorteada - santa ignorância!) e tempere com sal fino e dois limões. Coloque numa forma e leve ao forno médio pré-aquecido por 20 minutos no máximo. Retire do forno e, ainda bem quente, faça um corte de ponta a ponta regando com azeite de oliva extra virgem. Para sofisticar, coloque um pouco de flor de sal triturada na hora.

Sequinha na churrasqueira

Tempere da mesma forma, mas enrole numa folha de bananeira. Se não tiver (e quem é que tem?) apele para o velho e bom papel alumínio, ele não vai te decepcionar. Coloque na grelha e deixe por lá o mesmo tempo necessário para aquela cerveja artesanal que foi ao freezer ficar no ponto. Desenrole o papel alumínio, coloque a bicha numa tábua e regue com muito limão e azeite. Coma assim, com palitinhos, amigos e cervejinha gelada. Pra quem não sabe, ova esfarela então comer diretamente na tábua vai exigir de você um pouco de destreza e equilíbrio.


Fritinha

Mané que é mané, frita. Com muito óleo, no processo de imersão mesmo. Não conta calorias. O que conta é o sabor. Nesta versão, a tainha ganha crocância e a pele que a envolve forma uma película bastante agradável ao paladar. Para aromatizar o azeite em que a ova será frita vale acrescentar uns ramos de alfavaca. Ela vai perfumar não só o prato, mas também o ambiente. E uma dica importante: antes de colocar a ova no óleo bem quente, deixe-a envolvida num pano de prato para secar bem e evitar respingos. Vire uma única vez, três minutos são suficientes de cada lado. Sirva quentinha, com limão galego ou mesmo com gomos de bergamota. O azedinho "quebra" a gordura.

E aí, vais comer ou vais ficar só de butuca, istepô?







A vida como ela é: cada filme evidencia, a seu modo, a densidade das complexas relações familiares

Konrad (Clemens Schick), Donato (Wagner Moura) e Airton (Jesuíta Barbosa) no drama de Karim Aïnouz: amor e abandono
Um é cearense, o outro iraniano. Os diretores de cinema Karin Aïnouz e Asghar Farhad mostram ao grande público seus mais recentes trabalhos: “Praia do Futuro” e “O Passado”, respectivamente. Cada um ao seu modo evidencia a densidade das complexas relações familiares. São as pedidas da vez.


“Praia do Futuro”, filme do premiado diretor cearense Karin Aïnouz (o mesmo do emblemático “Madame Satã”) de coprodução Brasil-Alemanha, chega às telonas brasileiras nesta segunda quinzena de maio já aclamado pela crítica internacional. Recebeu menções honrosas no último Festival de Berlim e ganhou elogios contundentes da Variety e Screen International, algumas das mais prestigiadas publicações do segmento de cinema no mundo.
E se você não viu e nem ouviu nada por aí sobre “Praia do Futuro”, deixo aqui minha dica: vá assistir ao filme, mas não veja o trailler antes. Simplesmente porque ele não faz jus à grandeza do trabalho de Aïnouz. Toda a adrenalina, o comportamento nervoso dos atores, a música forte e a impressão de que haverá muita ação não são refletidos no filme de fato. E isso eu, particularmente, vejo como uma vantagem. Praia do Futuro é muito mais uma história de amor e de família, de culpa, de abandono e de perdas. O roteiro impecável é do Felipe Bragança e a trilha sonora pop emociona no tempo certo, abusando do ritmo de Heroes, de David Bowie.

Destaque para a excelente fotografia - as locações na Alemanha e o cenário do litoral do Ceará são de tirar o fôlego - tendem a criar movimentos de câmera longos, com poucos cortes e que pode até parecer meio arrastado para quem está acostumado com um ritmo à Schwarzenegger, mas que cai muito bem ao estilo europeu ou brasileiro cult.
Outro adendo que faço é em relação a um pré-julgamento equivocado do filme, que desmereceu o seu bom conteúdo, sendo rotulado como filme gay. Ok, os protagonistas são gays, o filme tem cenas demasiadas de nu frontal e sexo homossexual, mas apesar do excesso desnecessário esse rótulo não é justo com a obra. O filme é bem maior que isso. O próprio Wagner Moura, na coletiva de lançamento à imprensa em São Paulo, disse “Donato é um personagem complexo, ele tem muitos elementos. Ser gay é só um deles".
Aliás, vamos à história: Donato (Wagner Moura) é um salva-vidas da Praia do Futuro, na capital cearense, destemido e um verdadeiro herói para o irmão Airton (Jesuíta Barbosa). Um dia, ele conhece seu futuro parceiro, o motociclista alemão Konrad (Clemens Schick, americano bem manjado em filmes europeus) numa situação extrema: o turista é salvo de um afogamento por Donato. Mas, seu companheiro de viagens não tem a mesma sorte. O herói é quem dá a má notícia a Konrad.

E começa aí uma paixão avassaladora entre os dois. Começa aí também o drama familiar. Airton, o irmão mais novo, é quem mais sente o abandono quando Donato foge para a Alemanha com o namorado. Anos depois, o reencontro dos irmãos reserva uma enxurrada de emoções e de reflexões. Atenção ao último terço final do filme que guarda para o espectador uma imagem sequencial de tirar o fôlego.


“Le Passe”, título original do filme de Asghar Farhadi, é dono de um enredo difícil, porém fácil de ser acompanhado. Nem o ritmo lento dos takes, nem a fala mansa dos atores quebrada por discussões familiares agudas, consegue dar a percepção real dos mais de 130 minutos do filme. Passa tão rápido quanto passam as culpas pelo passado, os temores pelo futuro e a complexidade de uma relação familiar cercada de segredos. Farhardi, que é considerado o maior diretor iraniano de todos os tempos, tentou dar ao “O Passado” o mesmo tom dos consagrados “À Procura de Elly” e “A Separação”, suas obras-primas. A maior especialidade dele é criar um universo realista e povoado por indivíduos complexos e de bom caráter que, com frequência, se agridem por dilemas cotidianos que todos nós identificamos.
Nessa história, ele fala de Ahmad (Ali Mosaffa), que após quatro anos de separação chega a Paris vindo do Teerã, a pedido de Marie (Bérénice Bejo), a sua esposa francesa, para se divorciarem legalmente. Durante a sua breve estadia, Ahmad descobre a relação conflituosa que Maria tem com a filha mais velha, Lucie. Enquanto Ahmad se esforça para tentar melhorar esse relacionamento, irá descobrir segredos bem guardados do passado de cada uma das personagens. A revelação dos segredos e dramas, pouco a pouco vai prendendo a atenção de quem acompanha a história, mas nota-se que o diretor perde a mão no foco dos personagens. Nenhum deles tem sua índole revelada plenamente, nem seus objetivos à sua exatidão, e ninguém permanece protagonista por mais de vinte minutos. Assim como em todas as famílias, é legal ver também que nem todos ali são inocentes, assim como não há quem seja apenas vítima.
Nessa engrenagem de drama familiar há um certo suspense, mas é uma pena que ele se utilize de reviravoltas forçadas e de alguns personagens monossilábicos e sem nuance, como é o caso da filha problemática e do ex-marido e também ex-deprimido. A fotografia do filme não é bonita, mas é muito bem feita, realista. Não há um take sequer que você identifique Paris, por exemplo, mas com certeza você vai se incomodar com os detalhes da casa mal pintada e da cozinha pouco organizada em que a família faz as refeições. A mesma realidade pode ser vista dura e crua na trilha. Eu não me lembro de nenhuma música do filme – na verdade nem sei se tinha – mas é marcante o aúdio do trem que passa praticamente na janela da casa da família, do barulho chato da lavadora de roupas, do motor do carro emprestado que vai buscar Ahamad no aeroporto, quando ele reencontra a mulher para acertar o divórcio e onde tudo começa.
Em cartaz:
Paradigma Cine Arte
O Passado - 2013, França/Itália, 131 minutos, elenco: Bérénice Bejo, Tahar Rahim, Ali Mosaffa
Praia do Futuro – 2014, Brasil/Alemanha, 90 minutos, elenco: Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa

Veja mais no Jornal Imagem da Ilha

terça-feira, 13 de maio de 2014

Em Floripa, almoce com as flores!




Lugarzinho aconchegante, colorido e com cheiro de manjericão fresco


Torta de limão, um clássico, para finalizar
Schiaccina de polvilho
Crepe de Salmão: rápido, leve e delicioso
Fazia um bom tempo que eu não passava por esse café da minha amiga gastrônoma Ceres Azevedo. Estes dias almocei por lá para uma reunião rápida de trabalho e tive a grata surpresa de encontrar um cardápio atraente num ambiente super astral. Esse café fica dentro de uma estufa de plantas e flores, a Verde & Cia Garden Center, na SC-401, e as mesinhas estão dispostas entre vasos de flores, temperos frescos, samambaias e frutíferas. Um charme. De entrada, a Ceres manda como mimo uma schiaccina quente de polvilho, quase transparente de tão fininha, temperada com sal e ervas. Para almoçar, várias opções leves e rápidas. Eu fui num crepe de salmão com salada verde e frutas grelhadas. Muito bom. Não deixe de tomar um chá aromático e escolher uma das muitas sobremesas do lugar, a especialidade da Ceres.
Docinhos cítricos para levar com você